Shoot to Kill - Faixa a faixa

No formato de um álbum conceitual, a história de dois irmãos que moram na periferia de um grande centro urbano é contada música a música, desde seus conflitos diários até o momento em que um deles é assassinado em uma operação policial, deixando toda a família devastada. A obra retrata o drama da família na sua luta por justiça e redenção. A denúncia exposta nas letras ganha vida com arranjos recheados de harmonias vocais, orquestrações sinfônicas, corais, guitarras, baixos, violões, sintetizadores, pianos, baterias, percussões, entre outros. Além de toda a ambientação sonora presente nas músicas, destaque foi dado aos elaborados solos de guitarra compostos pelo proponente, que planejou, executou e programou todos os elementos vocais e instrumentais da obra. 

Facing Reality / Come On, Run!

João (14) e Pedro (17) acordavam cedo. Os irmãos moravam com os pais numa casinha pequena, aglomerada entre outras centenas no Complexo do Salgueiro, Região Metropolitana do Rio. Mais um dia longo os esperava. O pai deles, Evaldo, que trabalhava como músico, ainda dormia porque tocou a noite toda numa churrascaria no centro. A mãe, Ágatha, saiu para trabalhar antes do nascer do sol, como todas as manhãs. Em vão, ela preparou o café para os filhos, pois de tão atrasados para a escola precisavam correr até a parada de ônibus.  

Delusion

No apoio fraterno a esperança era alimentada, no anseio pueril, sonhos eram construídos. 

Keep On Running

Pedro estava prestes a fazer vestibular, era sempre otimista e sonhava em fazer um curso superior para ter condições de ajudar a família; João não andava muito contente, pois, sendo estudante bolsista em colégio de classe média, sofria na pele o racismo escancarado e o abismo econômico entre si e os colegas. E após um longo dia de estudos, no caminho de volta pra casa, dentro do ônibus, o sol caia por detrás do mar e o cansaço era latente nos rostos dos passageiros, mas Pedro não desanimava, pois, apesar das dificuldades, tinha esperança no futuro e tentava de todas as formas animar o seu irmão mais novo.

Just Another Day

Pedro era dedicado nos estudos e se destacava na escola. Como consequência, foi aprovado no processo seletivo de uma universidade em outra cidade. Para alegria dos pais, pelo seu bom desempenho ele também foi contemplado com um auxílio para morar longe de casa, alívio para os pais, que não teriam condições de mantê-lo longe. Em breve Pedro iria precisar se mudar para poder realizar o seu sonho. Todos estavam felizes, mas João, cabisbaixo e choroso, lamentava não poder mais contar com o irmão mais velho no dia a dia. 

“Calma, moleque! Essa história de viajar vai acontecer sempre, daqui a pouco vai ser só um dia qualquer na nossa vida. Estuda muito que o próximo vai ser você. Sossega que eu venho pra cá de vez em quando e te levo pra praia.”

Right Beside You

Mais uma noite de operação policial no Complexo. Evaldo passara o dia inteiro dando aulas de música e ainda não havia voltado. Pedro, feliz pela aprovação e livre dos compromissos escolares, estava na casa de primos, aproveitando os últimos dias antes de se mudar para a nova cidade. Ágatha sempre com muitos afazeres domésticos, preparava a janta e fiscalizava João, que estava enfurecido por ter que terminar as atividades da escola para se juntar ao irmão e jogar videogame na casa dos primos.

De repente ouviu-se barulho de tiros na direção de onde Pedro estava. Mensagens no grupo da família:

“Esse tiroteio é aí, não é? Já estou nervosa já”, diz a mãe.

“Tá tendo um tiroteio aqui, mas estou dentro de casa. Calma”, respondeu Pedro.

Evaldo já estava perto de casa, voltando no seu sedã branco, e entrou em desespero ao ler as mensagens: “Já tô chegando, daqui a pouco eu tô aí com vocês!”

Lying in My Arms

Sem respostas de Pedro no grupo da família, João desobedece a ordem de sua mãe e sai correndo em direção ao seu irmão. Evaldo precisou descer do carro alguns quarteirões antes, porque a área estava interditada, mas já conseguia ouvir o tumulto. Vozes exaltadas, sirenes e muitos curiosos indo em direção ao epicentro da confusão. Até mesmo um helicóptero da polícia estava chegando no local. O temor do pai aumentou ao perceber grande movimentação no entorno da casa dos seus sobrinhos. 15 policiais cercavam os amigos de Pedro do lado de fora da casa, mas ele não estava. 

“Tio, o Pedro foi...”. - Os sobrinhos tentaram avisar.

“O que aconteceu com o Pedro?!”. - Perguntou Evaldo.

“O Pedro foi baleado”. - Responderam seus sobrinhos. 

Sem tempo pra digerir a notícia, Evaldo entrou na casa. João, ajoelhado no chão, puxava o seu irmão, mas só tinha forças para soltar um grito desconsolado.

Tough Nights

O helicóptero da polícia levou Pedro para algum lugar desconhecido. Já era tarde da noite e Evaldo saiu para procurá-lo nos hospitais da cidade, enquanto Ágatha permaneceu em casa consolando o filho mais novo. Ainda sem acreditar no que aconteceu, João entra em estado de negação e revolta ao lembrar das cenas que presenciou no falecimento do seu irmão. Sua mãe tenta confortá-lo e convencê-lo. Foram dias difíceis para toda a família.

- Não vale a pena guardar esse sentimento de vingança, porque isso consome a gente e não muda nada no passado. “Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. Tiago 1:20.”

Farewell My Friend

Com protesto, dezenas de amigos e parentes enterram o Pedro. 

“Justiça! Justiça! Justiça!” - Exclamavam os presentes

João nunca pensou que um dia estaria enfrentando um momento como este. 

Dor e saudade o consumiam nessa despedida.

Justice

Dia do julgamento.

Evaldo: “Sr. juiz, a única oportunidade que o Estado me deu foi de colocar o meu filho morto nos braços. Gelado, sem vida. Um garoto com 17 anos e uma vida pela frente. Eu gostaria de perguntar a vossa excelência se você tem filhos. Eu gostaria de saber qual seria a sua reação, qual seria a sua ação para pedir justiça dentro desse sistema que é tão falho.”

Ágatha: “O nosso filho era um aluno exemplar, mas cortaram os seus sonhos, cruelmente. Eu só espero que ele seja o último, porque nós já vimos muitos crimes iguais a esse acontecerem. Eles não mataram só o Pedro, eles mataram um pai, uma mãe e um irmão. Mas a verdade vai aparecer. Nenhum crime forjado é perfeito. A mentira nunca prevalece, Sr. Juiz. Mas a gente quer resposta, porque sem justiça não tem paz. A gente quer paz, mas a gente precisa dessa justiça.”

E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre. Isaías 32:17

Peace

Passado o tempo, a mãe, o pai e o irmão de Pedro continuavam as suas lutas diárias, tentando superar as dificuldades da vida e se desprender das amarras que pesavam em seus corações. Sem nunca se esquecer, um dia sequer. Mas agora também havia nas suas mentes uma confiança que não passaria. Havia a certeza de que ainda o encontrariam. E apesar das aflições eles conseguiram sentir algo inexplicável, a paz que excede todo entendimento.

Moving On

Após anos de luta, denúncias, audiências, apelos, protelações e julgamentos, oito condenados pelo crime. 227 anos de prisão foi a soma das penas. Resultados da justiça dos homens, que é tardia e falha, e que nunca repara malfeitos por completo. Mas que ajudaram aquela família seguir em frente, podendo experimentar um pouco da verdadeira justiça que há de vir. 

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